quinta-feira, 3 de abril de 2008

Cento e dez...

Cento e vinte; Cento e sessenta. Só pra ver até quando o motor aguenta.

Eu tava bem mais calmo. Tão bem mais calmo que estava quase sem paixão nenhuma, tava sem inspiração nenhuma, tava a Cem e só isso.
Quero acelerar um pouco.

Razão
Postos à prova dia após dia
À prova de balas, mas não de agonia
Ponteiros no doze, bossa nova ao luar

O início de uma nova manhã nos traz
Eu vou à igreja, peco, rezo e tudo mais
Entardece a melodia de uma ferida ao cicatrizar

A cruz de Cristo leva um terço como hino
Mais um canino e eu fico com trinta e três
Dentes, ossos, carne do antigo messias
Vale tudo: quem coleciona, tem

Mas se um dia Deus me olhar de lá de cima
Verá que eu, há dias, já tenho razão
E quem adia a razão só reanima
Os esqueletos do armário da Ilusão

Religião, há tempos, anda assassina
Matou três quartos de um mundo na Inquisição
Se Deus ordenou que fosse feita uma chacina
Eu me converto: viro morto ou pagão

E se esse Deus me olhar torto lá de cima
Verá que, há anos, só vejo decepção
Falsos devotos pagam o metrô de ida, para os céus
Para que a vida tenha tido uma razão
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Maquiagem
Sabe que eu nunca vi um deserto tão populoso
Tanta gente junta, tão pouca gente de mãos dadas

Uma selva de concreto com um abstrato tão perigoso
E, olha, nossas casas hoje viraram essas jaulas

Pintam as ruas com o sangue da nossa cara
Pintam as caras, dia a dia, para ir pra guerra
Pintam faixas, pixam muros tão seguros
De que isso vai mudar alguma coisa nessa nossa terra

Sabe que me assusta as nuvens estarem tão longe do chão
Arranham tantos céus que um dia os céus arranhariam essa ilusão

Uma selva de concreto com um abstrato que nos abriga
E essa briga já não é nossa, mas ela já está em nossa vida

Pintam as ruas com o sangue da nossa cara
Pintam as caras, dia a dia, para ir pra guerra
Pintam faixas, pixam muros tão seguros
De que isso vai mudar alguma coisa nessa nossa terra

Tatuagens em nossos corpos, nossos rostos têm maquiagem
E a viagem é que pra sair de casa
Precisamos nos cobrir com esse algo que nos disfarça

Pintam as ruas com o sangue da nossa cara
Pintam as caras, dia a dia, para ir pra guerra
Pintam faixas, pixam muros tão seguros
De que isso vai mudar alguma coisa nessa nossa terra
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A Verdadeira Guerra Dos Mundos
Confuso, Confúcio confuso
Muito se sabe sobre a arte da guerra
Obtuso, caindo em desuso
É que nada se sabe sobre a arte da Terra

Só que são os dois lados da mesma moeda
Se dá a cara a tapa e a coroa se entrega
Dos espólios da batalha, nasce outra guerra
E de todos nós, Otários, não é Deus que se ferra

Morre um agora, morre um depois
E propina é um jogo que se joga a dois
Se tem um que compra, tem um que vende
Tem bandido dos dois lados se é que você me entende

Confuso, Confúcio confuso
Muito se sabe sobre a arte da guerra
Obtuso, caindo em desuso
É que nada se sabe sobre a arte da Terra

Somos dois lados e meio de meio jantar pra dois
Os que comem, os da fome e o comido feito arroz
Se não há nada pra comer, enche a barriga de bala
Trinta e oito, tamarindo: se não lutar, vai pra vala

Morre um agora, morre um mais tarde
E propina é um jogo que se joga com covarde
Sempre tem um pra comprar e tem um pra vender
Tem bandido dos dois lados e no meio está você

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