domingo, 2 de junho de 2013

Despedida às seis da manhã

                E então a olhou. Distanciou seu rosto do dela e abriu seus olhos e olhou-a como nunca antes. Não sabia se voltaria a ver aqueles olhos negros tão vazios do vazio que se vê nos demais olhos, do vazio que via em seu próprio olho.
Amava-a.
Do momento em que a conheceu, soube, mas nunca soubera se voltaria a vê-la. Naquele momento não seria diferente. Aquele momento era apenas o nascer do cielo rojo, o nascer do sol, era um beijo de despedida no portão sobre aquele descampado, tudo aquilo que ele não conhecia e que ela tampouco, todo aquele lugar que era novo para ambos – tanto o descampado quanto o amor – toda aquela matiz fulgurante, aquele inferno vermelho ao horizonte dando vez ao rosa quente e terno rodeando o sol e que levava a um céu azul claro sem nuvens lá no alto e tudo isso, todas essas cores desconcertavam os dois. Beijaram-se novamente e foi às seis da manhã e não teria como ter sido em outra hora, não “era” algo que acontecia às seis – “foi”, aliás, com um devido maiúsculo, “Foi”.
Disseram adeus e declararam outra vez seus votos mútuos de amor, selando-os com um beijo. Ele deu um passo para trás, deu um passo atrás do outro e não perdeu-a de vista, acendendo um cigarro enquanto distanciava-se sorrindo.
Quando ela não era mais que um ponto distante para seus olhos, pôde chorar sem incomodar-se em ser notado por ela. Não queria que ela pensasse que ele duvidaria se seria ela, não, jamais. Não havia dúvida. Nunca houve. Só é difícil saber se seremos para sempre os mesmos. Provavelmente a veria de novo, mas já não seria ele.
Fazia frio às seis da manhã, ambos longe de casa. Estiveram tão perto de casa quando a meia-noite cedeu. Talvez as cobertas fossem suficientes para acobertar a distância.

Talvez para Dmitri e Catarina o céu às seis da manhã de domingo fosse o suficiente.