domingo, 20 de fevereiro de 2011

Carrossel

Eu finalmente fazia uma melhor ideia de você. Há tempos eu já tinha noção, mas não sabia exatamente o que diabos, o que diabos eu sentia, o que diabos você era, por que diabos eu demorava a me levantar ao cair. E tudo era tão igual e todas as cenas se repetiam e os sentimentos repetiam e os beijos, os beijos, CÉUS, se repetiam e você não sumia nem por um segundo. Eu passeava em círculos até notar que corria sempre para o mesmo lugar e ainda assim era incapaz de lhe encontrar, você parecia nunca estar logo a minha frente, sempre à mesma distância, sempre tão distante. Minha bela menina, você é meu carrossel. Você é meu carrossel e eu não lhe encontro porque ando em círculos, mas nunca me veio à cabeça a idéia de procurar você no centro da miragem pela qual eu passeava.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Nosso momento

Ela não era de falar muito, não. Não posso culpá-la por estar apaixonado, pois ela nunca estimulou minha paixão. Não posso culpá-la pelos seus beijos que me corromperam o coração, de forma a tornar-me incapaz de aceitar outros, pois ela também podia dá-los a pessoas melhores, mais bonitas e que efetivamente fizessem seu sorriso durar pra sempre. Não posso culpá-la pelas suas frases roucas, pelos seus sorrisos, pelo carinho que me fazia no peito, nada disso. Se eu houvesse de culpar este momento, como poderia querer vivê-lo novamente para sempre? Se eu houvesse de culpar seus beijos, como poderia querê-los sempre em minha boca, em meu rosto, em meu corpo? Se eu houvesse de culpar tanto esta paixão, como poderia recorrer a ela nas noites sem fim e fazer de minhas horas um santuário inesgotável, um momento único de felicidade? Se eu houvesse de culpar a ela, como poderia eu olhar novamente em seus olhos lindos e negros, fitar seu sorriso – o mais lindo do mundo – enquanto observo-o se aproximar até nossos lábios se encontrarem e ter a consciência imaculada de que não poderia ser mais ninguém? Como poderia ter a certeza de que é ela?

Sinto que estou voando alto demais, rápido demais e que mesmo quando eu cair - mesmo quando ela me derrubar -, ficarei bem. Não tão bem, mas feliz por ter vivido tanto. Não seria um mundo perfeito sem seu beijo, minha paixão, ou nosso momento.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O olhar é o mesmo

Outra noite em claro. O calor e a bebida têm me deixado acordado, meus olhos estão escuros e cansados. Não, minha cabeça não tem nada a ver com isso; não, aquela guria não tem nada a ver com isso – isso é tudo impressão. Acendo outro cigarro e meu quarto já não parece meu, não parece que você viria a ele algum dia, não parece que passo minhas desilusões todas trancado nele com conhaque barato e um cinzeiro improvisado. Você me parece cada vez mais distante com seus candidatos todos melhores, mais bonitos, mais feitos pra você do que um velho escritor, um velho de vinte e um anos que envelhece tão rápido quanto se deixa envelhecer pelas divergências com a vida, um velho, um velho decrépito. Se meus olhos foram famosos por carregar a inocência de uma criança, se meu coração foi famoso por isso, já não sei pra onde foi meu coração, que já não bate; já não sei pra onde foram meus olhos – sinto que o olhar é o mesmo, mas os olhos não. Acho que te dei meus olhos, mas não tenho coragem de pedi-los de volta.