sábado, 26 de dezembro de 2009

Os Labirintos e A Angústia

Eu poderia dizer que foi uma véspera de Natal, que foi numa véspera de Natal, mas era, na verdade, a véspera da véspera, um dia que não era importante pra quem não vivia um dia após o outro.
Enfim, já não importava e eu já estava ficando louco. Finalmente me encontrava mais livre, leve, solto, essas coisas para as quais damos valor, mas eu não me sentia melhor. Sentia a falta de algo, sentia algo fora de lugar. Pra ser sincero, é habitual eu me sentir deslocado, mas me sentir assim ainda que estando em estado de solitude para mim era novidade. Isso me dizia que eu não me sentia à vontade nem comigo, mesmo.
Para piorar, em meu lar havia uma tensão de dimensões para mim até então desconhecidas. Se até então eu descrevia certas tensões como sendo tão densas que poderiam ser cortadas por uma faca, assim o fazia sem saber que esta tensão é real. Meus pais, que nutriam um casamento sadio e com constantes brigas, mantinham uma Guerra Fria particular do mesmo lado do muro, sem ter onde, nem o que esconder. Entre os dois, eu.
Eu já não sabia como mantinha essa vida absurda e me livrar desta falta de lógica já havia passado pela minha cabeça por várias vezes, nessee ddia mesmo, mas eu sempre dou mais uma chance à vida, como o homem absurdo que sou.
Passei o dia escutando Donna, de Charlie Parker, Bitches Brew, de Miles Davis, e Stang’s Swang, de Stevie Ray Vaughan, na esperança de esquecer a Ana, menina dos labirintos de Humberto. Ana não me queria, fosse lá o porquê, e isso me entristecia. Gostava dela e já não me via com outra mulher, algo meio doentio, talvez, mas a verdade é essa. Já não sabia o que sentia, mas sua ausência me fez chorar. Decidi sair pra ver se melhorava, já sabendo que não teria sucesso, então liguei para Jackson e Goldenberg para marcar algo para oito horas. Saí e logo encontrei Jackson, na Vanhargem, e fomos juntos, então, comprar cigarros, ao passo que, ao voltar, comentei de um bar cuja cerveja era barata e para lá partimos.
Talvez esteja duro demais, mas já não tenho mais dinheiro para me embebedar de forma segura, então permaneci bêbado demais para estar sóbrio e sóbrio demais para perder a timidez. Ainda assim passamos algum tempo falando de nossa irmandade, de religião e de mulheres. Lembrei de Ana e bebi de uma forma descontrolada, sem saber o porquê, como tudo o que a envolve. Não havia motivo para essa paixão, mas Lobão já dizia “a paixão não tem nada a ver com a vontade”.
Esperamos o judeu chegar e nos encostamos por lá, na praça, para ver aquelas garotas de dezesseis, cheias de vida, desfilarem pela calçada, mas nem elas me animavam. Quando Goldenberg chegou, ficamos a ver as lolitas um pouco mais e entramos numa boate por lá. Não era nenhuma maravilha e pra falar a verdade foi um dos piores lugares em que pisei. Literalmente, até, pois o chão era grudento.
Lá, havia uma gata de camisa listrada que espantei, pois fui coagido a tentar a sorte com ela, mas meus dotes de retórica e manipulação, quando sóbrio, se reduzem a zero por conta da timidez. A menina-zebra tinha uma voluptuosa bunda cujo rebolado era demasiadamente sedutor, ao passo que uma noite com ela seria inesquecível, sem dúvidas.
Nós aproveitamos para dançar e então, confesso, me senti melhor. Talvez tenha expulsado toda a angústia, momentaneamente. Bem sabia que tal sentimento voltaria com meu próximo contato com Ana, mas, deste modo, ganhei tempo.
Depois de um tempo, a música eletrônica se tornou pagode e eu saí de lá, deixando Jackson e Goldenberg, sem paciência. Os meninos não me entenderam bem, mas aceitaram. Eu só queria voltar para casa e escrever sobre minha angústia.
E assim o fiz...

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Um coração partido é a maior fonte de amor.

“-Não quero mais estar com você, simples assim.
-Mas o que houve? Sempre estivemos juntos, por que mudaria agora?”

A ordem nunca atrapalhou as lamúrias. O fim sempre foi igual ao início, pois a solidão é única.

Depois da tormenta...

... Vem a tormenta. A arte retorna como um grande tufão.
Vera e Estranhos, agora.

Vera (Verdade)

Marquises marcavam lugares por onde parei
Passaram-se bares por onde passei
E fiquei a ver a verdade mudar

Eu fiquei a ver a verdade fitar os seus olhos, Vera
Ela sorria sem ver, sem ver mal algum
Você me dizia que via a verdade e como as coisas eram
E elas não eram mais do que o normal


Descendo na Estação Cinelândia e subindo as escadas rolantes
Rolando de tudo à luz do neon das noites de sexta na Lapa

Eu fiquei a ver a verdade fitar os seus olhos, Vera
Você já me diz não haver mal nenhum
Prometi a você que veria a verdade e como as coisas eram
E elas se mostraram fora do comum

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(Estranhos) Estranhos

Alinhando os lábios, sempre à procura
Do filtro do cigarro entre um trago e outro
Labirintos armados por uma rua escura
Que espera o dia nascer

Atrás das grades está minha língua
Querendo fugir para tua prisão
Camas desarrumadas numa manhã tão cinza
Servem de abrigo para a solidão

Alinhando os lábios à procura dos seus
Entre um cigarro e outro, mais um trago
Sóbrios amargos, estamos à procura de Deus
Esperando o dia morrer mais uma vez