segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Insônia


Enquanto a noite dorme, eu sonho
Só no sonho o sono que sonho adormece a noite comigo

Enquanto a noite queima, eu águo
Verter, em mãos, delírios e ver – ter – irmãos de lírios

Enquanto a noite acorda, eu espero
Elo tenso pela fragilidade atada tem sua frágil idade delatada

Enquanto a noite dança, eu sinto
A noite, me abraçar, e a noite me abraçar

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

As Camas e Os Sonhos


                Agarrou seu travesseiro. Pensou em abrir os olhos, talvez tenha pensado, mas não abriu. Não sabia exatamente em que cama estava, mas em seu âmago fazia ideia. No fundo de si, em seu peito soube e enfiou o rosto em seu travesseiro para esconder-se da verdade iminente. Sentiu-se observado. Estivera sendo observado desde muito antes e fora isso que o fizera acordar. Olhos quentes, coração quente, membros esquentando e envolvendo seu corpo, tomando seu peito e abraçando-o quente contra sua vontade fria. Virou para reconhecer os olhos que queimavam, donos dos braços que cercavam, das pernas que aninhavam e do que havia entre elas que o aprisionava. Ainda de olhos fechados, tateou o rosto dela com o seu, suas costas com suas mãos, suas coxas com suas mãos, seu rosto novamente e abriu os olhos. Seus olhos castanho claros viram os negros de Carmem.
                Dmitri aos poucos lembrava-se da noite anterior, de como Carmem aparecera em sua casa pouco antes das duas da manhã, de como ela esteve, bêbada e rancorosa e claramente a fim de arrepender-se por algo que não havia feito ainda. De como levantara-se de sua poltrona contra a sua vontade, deixando sua cerveja pela metade na mesa de centro, olhara para a janela e vira-a molhada e o chuviscar pesado por trás dela, para então caminhar até a porta e receber uma mulher sinuosa com quadris sinuosos, cabelos negros encharcados escorridos, rosto encharcado e escorrido e quase sem expressão senão a de súplica calada que pedia desnecessariamente urgente um abrigo, não da chuva, mas da vida, de sua casa, de tudo. De Luka.
                Acendeu seu cigarro e virou o rosto, não queria confrontar o rosto que jazia no que fora sua cama e agora era um túmulo. O que Luka pensaria? Amizade de anos – eram irmãos. Não desses de sangue, nem do tipo que se escolhe, mas aqueles dos quais não se pode escolher se é irmão, ou não – apenas se pode ser. Agora... Traíra Luka. E agora?
                Resolveu continuar de costas para Carmem e fechar os olhos. Cenhos franzidos, tentou repentina e gradativamente voltar a dormir. Pensamentos turbulentos, memórias recentes carregadas de sentimentos invadiram-no e reviraram-no.
                Por fim resolveu abrir os olhos novamente. Acordara sozinho, desta vez, num quarto diferente: o seu. Confuso, aos poucos tomou a noção de tempo que se perde quando se adormece e percebeu que este fora apenas um sonho. Não, não fora um sonho, aliás, apenas um sonho. Fora uma lembrança – a lembrança de sua primeira noite com Carmem.