segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Cigarros, um beijo e Nadia

Viria então a conhecê-la. Parecia bonita nas fotos, bem como falavam sobre ela. Olhos castanhos, claros, expressivos, emoldurando um rosto delicado, de maçãs fortes e boca e nariz finos. Seu rosto inteiro brilhava e dançava com seu sorriso. Seu sorriso arrancava um sorriso dele. Ele não costumava mostrar os dentes, não assim tão fácil – no entanto sorria com ela a cada sorriso fácil que ela dava.
Ela não gostava de cigarros, ele fumava. E não fumou os cigarros da espera, antes de encontrá-la.
Planejavam ir ao cinema, mas ela não gostava de planos. O improviso lhe vestia melhor. A sessão para a qual haviam acordado em ir havia esgotado e teriam de improvisar. Ele ganhava a vida com planejamento – gostava disso.
Dmitri e Nadia decidiram vagar pelo Rio de Janeiro à procura de algo melhor – no caso, andar pela Bartolomeu Mitre, procurando um lugar para comer. Nadia contou sobre seu passado, sobre seus relacionamentos antigos, pouco a pouco mostrando o porquê de seu comportamento arredio. Dmitri gostava de gatos.
Encontraram uma hamburgueria em um shopping no Leblon e lá ficaram e discutiram sobre muito até ficarem cansados e com sono, após comerem um par de hambúrgueres. Ele acompanhá-la-ia até em casa, na Gávea.
No caminho falaram sobre a sublimidade do sofrimento, de seus pais, da vida, dos filmes, dos livros e em uma esquina aconteceu. Dmitri sabia que deveria esperar, Nadia sentia que não deveria fazê-lo. Ela não estava pronta para já se envolver fisicamente com outra pessoa e ele sabia. Os dois estavam cometendo um erro em apressar as coisas. Os dois sabiam. Aconteceu.
Foi apenas um beijo. Nadia puxou Dmitri da esquina – ficaram de frente. Ele pôs seus braços à cintura dela. Nadia deu dois passos ao encontro de Dmitri que, por sua vez, deu outro passo. Quatro olhos tremiam. Quatro olhos castanho-claros tremiam e as bocas inseguras se aproximaram e o segundo final que as separava durou uma noite inteira. Quando colaram, assim o fizeram com culpa.
Nadia era arisca e arredia e Dmitri, mesmo tendo experiência com gatos, foi incapaz de não se deixar arranhar. Parecia inevitável que este gato fugisse.
Tentavam fingir que isto não mudaria nada, mas certamente mudou. Deixou-a em casa e despediu-se sem um beijo, tentando consertar as coisas.

Esperando por um táxi que o levaria para casa, Dmitri finalmente fumou.