Viria então a conhecê-la.
Parecia bonita nas fotos, bem como falavam sobre ela. Olhos castanhos, claros,
expressivos, emoldurando um rosto delicado, de maçãs fortes e boca e nariz
finos. Seu rosto inteiro brilhava e dançava com seu sorriso. Seu sorriso arrancava
um sorriso dele. Ele não costumava mostrar os dentes, não assim tão fácil – no
entanto sorria com ela a cada sorriso fácil que ela dava.
Ela não gostava de cigarros,
ele fumava. E não fumou os cigarros da espera, antes de encontrá-la.
Planejavam ir ao cinema, mas
ela não gostava de planos. O improviso lhe vestia melhor. A sessão para a qual
haviam acordado em ir havia esgotado e teriam de improvisar. Ele ganhava a vida
com planejamento – gostava disso.
Dmitri e Nadia decidiram vagar
pelo Rio de Janeiro à procura de algo melhor – no caso, andar pela Bartolomeu
Mitre, procurando um lugar para comer. Nadia contou sobre seu passado, sobre
seus relacionamentos antigos, pouco a pouco mostrando o porquê de seu
comportamento arredio. Dmitri gostava de gatos.
Encontraram uma hamburgueria
em um shopping no Leblon e lá ficaram e discutiram sobre muito até ficarem
cansados e com sono, após comerem um par de hambúrgueres. Ele acompanhá-la-ia
até em casa, na Gávea.
No caminho falaram sobre a
sublimidade do sofrimento, de seus pais, da vida, dos filmes, dos livros e em
uma esquina aconteceu. Dmitri sabia que deveria esperar, Nadia sentia que não
deveria fazê-lo. Ela não estava pronta para já se envolver fisicamente com
outra pessoa e ele sabia. Os dois estavam cometendo um erro em apressar as
coisas. Os dois sabiam. Aconteceu.
Foi apenas um beijo. Nadia
puxou Dmitri da esquina – ficaram de frente. Ele pôs seus braços à cintura
dela. Nadia deu dois passos ao encontro de Dmitri que, por sua vez, deu outro
passo. Quatro olhos tremiam. Quatro olhos castanho-claros tremiam e as bocas
inseguras se aproximaram e o segundo final que as separava durou uma noite
inteira. Quando colaram, assim o fizeram com culpa.
Nadia era arisca e arredia e Dmitri,
mesmo tendo experiência com gatos, foi incapaz de não se deixar arranhar.
Parecia inevitável que este gato fugisse.
Tentavam fingir que isto não
mudaria nada, mas certamente mudou. Deixou-a em casa e despediu-se sem um
beijo, tentando consertar as coisas.
Esperando por um táxi que o
levaria para casa, Dmitri finalmente fumou.
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