terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O olhar é o mesmo

Outra noite em claro. O calor e a bebida têm me deixado acordado, meus olhos estão escuros e cansados. Não, minha cabeça não tem nada a ver com isso; não, aquela guria não tem nada a ver com isso – isso é tudo impressão. Acendo outro cigarro e meu quarto já não parece meu, não parece que você viria a ele algum dia, não parece que passo minhas desilusões todas trancado nele com conhaque barato e um cinzeiro improvisado. Você me parece cada vez mais distante com seus candidatos todos melhores, mais bonitos, mais feitos pra você do que um velho escritor, um velho de vinte e um anos que envelhece tão rápido quanto se deixa envelhecer pelas divergências com a vida, um velho, um velho decrépito. Se meus olhos foram famosos por carregar a inocência de uma criança, se meu coração foi famoso por isso, já não sei pra onde foi meu coração, que já não bate; já não sei pra onde foram meus olhos – sinto que o olhar é o mesmo, mas os olhos não. Acho que te dei meus olhos, mas não tenho coragem de pedi-los de volta.

Um comentário:

Deh disse...

você me lembra poeta do rio antigo... com seus tão vividos vinte e um anos... e essa velhice prematura que só você acredita. Lindo texto.