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Tenho uma cerveja, quer? – disse de cenhos franzidos, virando o rosto para não
olhar para ela. – Não é nenhum dos teus vinhos chiques, mas quebra um galho.
Ele
perguntou isso já sabendo que ela aceitaria a cerveja, nada poderia dar errado
neste momento, fora tudo longa, fria, minuciosa e demoradamente calculado
segundos antes. O tom, o jeito, o desinteresse, tudo falso, tudo ele, tudo do
que ela precisa, tudo do que ela sentia falta em Luka, tudo o que ela não via
desde que o conhecera, naquele Novembro chuvoso. Dias quentes de noites úmidas
e abafadas, afobadas para cada pessoa naquela cidadezinha chamada Rio de
Janeiro, uma pobre cidade grande que de tão longe parecia uma ilha.
O
terraço era o ambiente perfeito, aquele prédio era perfeitamente alto, as luzes
perfeitamente amarelas e todo aquele mar de luzes acesas de todos os prédios
menores, todos os postes nas ruas, sinais vermelhos, bares abertos, hospitais
acesos com gente apagada, sinais verdes e carros parados, boates apagadas com
gente acesa, mar de pessoas atravessando sinais amarelos e a noite começava nas
onze da noite da zona sul do Rio. Essa era a vista que Dmitri e Carmem tinham e
essa vista perturbadora e cativante seria capaz de criar o momento perfeito
para que Dmitri pudesse conquistá-la. A véspera de Natal também dava a condição
ideal para isso. Era só esperar a resposta – o álcool faria o resto.
Dmitri
tinha “quando”, “como”, “onde” e “porque” para fazer aquele “que” tão esperado
com Carmem e agora...
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Não, obrigado. Vc sabe que eu não bebo. – ...ela respondia.
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