segunda-feira, 14 de março de 2011

Gripe

Ela não gostava dos meus cigarros. Não gostava do cheiro do cigarro, do gosto do cigarro, do mal do cigarro. Virava o rosto pros meus beijos depois que eu terminava meu cigarro e eu tinha de convencê-la com meus lábios a me querer novamente. Conheci-a tem duas semanas e sinto como se houvesse conhecido-a há meses e tivesse-a na minha vontade, na minha cabeça, há anos. Alva de olhos castanhos, cabelos claros, boca macia, corpo suave, ela ardeu em minhas mãos como uma garganta no deleite ébrio do conhaque. Jamais esqueceria o quarto escuro do motel se encolhendo claustrofobicamente ao tirarmos as roupas, num desdobrar de corpos, no febril arfar sob gemidos, no febril afã sobre seu corpo, no febril afago sob as cortinas. Por alguns momentos, cheguei a ter certeza de que queria acordar com ela pelo resto da minha vida, mas tudo parece possível em quartos escuros de motel – neles, os sonhos são reais e o coração sempre é correspondido.

Ela não queria nada, nada sério. Eu quis. Acho que ainda quero. Há algo de especial nela – eu não fumava perto dela, mal bebia perto dela e com ela eu fazia a barba dia sim, dia não e se isso não for um esforço considerável, eu não sei o que é. Ao conhecê-la eu peguei uma doença chata e comecei a tossir bastante – meus olhos ardiam, meu corpo ardia, a luxúria ardia, a luxúria queimava, queimava em febre. Ao conhecê-la eu peguei uma doença chata e meu coração não é o mesmo desde então.

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