terça-feira, 14 de agosto de 2012

Ruído branco


                Poderia ser neon, mas é uma ponta de cigarro.
                Esfrego os olhos até o conhaque abandonar o borrão que acompanha a vista. Às quatro e meia, a tarde ainda costuma ser clara – e seria, não fosse o céu nublado. As cadeiras encontravam-se, em sua maioria, vazias. Ambulantes, comércio de rua, transeuntes, bêbados, colegiais, calouros, você e os demais. Entre um trago e outro, olho seus olhos.
                Vejo o carmim que contrasta tão bem com seu tom de pele curtido. Ouço sua voz e de repente é cinco. Vejo seu sorriso e continua cinco. Você me beija e de repente seis. Você me deixa e já é outro dia.
                Duas olheiras a mais, um maço a menos e um copo vazio, novamente ao parapeito – as cores me fogem e só me sobra novamente o cinza do nublado. Sem esperar, vejo gotas de chuvas  espalhadas e o horizonte como ruído branco, como que mostrasse que a vida não está em sintonia, estou perdendo o sinal e aos poucos o que está a poucos palmos fica turvo. Sem cores, sem visão, sem você.
                Poderia ser neon.