domingo, 25 de outubro de 2009

A Espera - 2

Se eu contasse as minhas intensas noites de sábado a vocês, provavelmente gastaria meses ao citar detalhes atrás de detalhes, mas, por hora, me ocuparei por contar algo que testemunhei numa noite de sábado recente...
Acabara de acordar às dez e meia da noite de sábado, após um breve cochilo e decidi por matar o resto do tempo que me faltava, pois nada havia a se fazer naquela noite onde muitos já estavam compromissados, outros duros, outros nem na minha querida cidade estavam. De todo modo, recebi uma ligação e a voz que perguntava por mim não me era estranha, mas soava como um desses malditos operadores de tele-marketing – nada contra seus trabalhos, pois honestos e esforçados, porém demasiada-mente chatos, eram – e me dei conta de que era Jackson e ele tinha a parada certa para hoje à noite. Estava meio sonolento, ainda, e conversava com uma amiga minha que estava em sua cidade natal, logo, não levei fé na saída, por hora, mas logo topei. Mandei Goldenberg sair de suas sandálias sujas e gastas e roupas amassadas de ficar em casa e vir comigo. Relutante, pois duro, no início, logo cedendo, aceitou. Combinamos de nos encontrarmos em frente a um Shopping Center perto do local e logo fomos sabendo que nossa noite começaria quando a de muitos estaria por terminar – ao soar da meia noite.
Acompanhei o horizonte de minha rua, por onde passaria um ônibus que me deixaria praticamente em frente ao tal ponto de encontro, mas ele decidiu não passar. Decidiu, com toda a sua veemência e arrogância, por não passar tão tarde. Redirecionei o trajeto de minha ida, andando por alguns quarteirões até chegar a um ponto por onde passam dois ônibus que me deixariam lá. A espera foi longa e muitos dos ônibus que jamais passam – muito menos em bandos – passaram com rapidez avassaladora, mas, ao menos, foi uma espera finita. Neste ônibus haveria vários tipos que compõem a noite carioca como respeitáveis senhores boêmios, boys bem vestidos escutando um batidão, jovens bêbados e mal educados, além de mulheres bonitas e arrumadas, prontas para a ação. “Ah, a noite carioca!”, exclamei, eu. Estava novamente com os olhos na lua e com o sorriso na cara, atravessando a vida que transitava ao meu redor, como uma brisa suave atravessaria as folhas de uma árvore.
Ao chegar no Shopping, me senti menos vivo, pois me encontrava perto de gente cansada, fatigada, que havia perdido seu joie de vivre e isso me incomodava. Acendi meu cigarro e fiquei por observar a vazia multidão e suas manias. Ao passo que me recostei em um poste, uma jovem gatinha com seus prováveis dezesseis anos e dourados cabelos longos sentou próximo a mim. Flertava, com seus olhos castanhos e maquiagem em excesso, típica das ingênuas e inseguras garotas jovens. Talvez por timidez, ou bom senso, optei por não fazer nada, pois, por sua idade e condição solitária, estaria lá esperando a carona do pai ou de seu namoradinho mais velho com carteira de motorista. Uma noite de amor e luxúria se passou pela minha cabeça enquanto imaginava seus lindos e macios tornozelos bronzeados tocarem gentilmente suas orelhas envoltas por seus cabelos dourados, mas era apenas uma noite breve em uma cabeça fodida. Além do mais, eu acertei. Não vi quem estava no carro, mas ela se sentou no banco do carona e o carro deslizou para longe do alcance da minha vista.
Quis acender outro cigarro, mas dentre as pessoas próximas e presentes – cada vez mais raras – ninguém fumava, ou tinha fósforos ou isqueiro. Foi quando eu perguntei a um jovem que trabalhava com táxis se ele tinha algo para meu cigarro e ele me cedeu seu isqueiro. Agradeci e rimos, contando sobre casos e acasos nossos, ao procurar fogo para nossos cigarros. O rapaz tinha um sorriso delicado e singelo e olhos humildes e, sem dúvidas, tinha o joie de vivre que faltava aos demais ali presentes. Em certo momento, me retirei para aproveitar a solidão da espera.
Foi quando me deparei com algo que me deixou perplexo por alguns momentos. Talvez fossem os cigarros fumados rapidamente, talvez fosse o calor recente das noites regidas pelo horário de verão, mas eu suava e muito! Então reparei, ao olhar para o céu, que naquele prédio razoavelmente grande em frente ao Shopping havia certa solidão.
Estava por ver algumas janelas aglomeradas e unidas por suas luzes acesas, cujos donos residiam esperando a febre do calor, ou, quem sabe, o delírio febril da noite licenciosa de sábado, passar, mas um apartamento chamou minha atenção. Este janela, em especial, se localizava no último andar deste razoavelmente grande prédio e, como as outras, tinha sua luz acesa. O que havia de tão especial nesta janela, para que eu me sentisse tão mal ao olhar para ela? O que despertava esta pena em mim? Era uma janela como todas as outras, mas, diferente delas, estava solitária, andares acima das demais que iluminavam umas às outras como pessoas curtindo a solidão em conjunto, e, além do mais, sua luz trepidava, ao girar das hélices do ventilador de teto. Por algum motivo, esta janela me comoveu, pois senti pelas pessoas que ali estavam uma grande vontade de amá-los. Amá-los e tirá-los da amarga condição de sofredores, de carentes e solitários amantes que jamais seriam mais que náufragos vizinhos, cujas ilhas não se tocariam. Imaginei se seriam eles felizes e se em algum dia eu me deixaria ser assim. Por algum momento, eu realmente acreditei que sim, mas, por sorte, antes de chegar a sentir pena de mim mesmo, queimei meus dedos com meu cigarro, que já havia acabado e, dele, só me restava o filtro. Vi que já havia passado de meia noite e quinze e decidi ligar para Goldenberg e Jackson. No momento em que tirei meu celular do bolso e comecei a catar o número de Jackson na agenda, Goldenberg me assusta, ao me surpreender pelas costas. Rimos e, logo, a espera havia terminado.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Nunca, mas nunca mais...

Estou há um tempo sem postar nada.
Esse post, esse poema, é sobre o atraso de vida que é negar a si mesmo o que se sabe que quer.
Esse é um post sincero, como muitos outros.
Esse poema é Nunca Mais

Nunca Mais

Do sol que se põe ao sol que nasce
A face com a qual me olhas
Me olha como se não desejasse

Da noite mais triste à mais triste solidão
A mão com a qual me afagas
Apague as luzes e me deixe só, então

Um cruel "Boa noite", um breve "Até mais"
Segundos presos no tempo
Que, segundo você, não se repetirão
Nunca mais